sábado, 29 de agosto de 2015

Exercícios de escrita. O BrasilXobjetivos do milênio

//NAO ESTÁ PRONTO PESSOALLLLO Brasil e os objetivos do milênio

Oficial do Programa para o Desenvolvimento das Nações Unidas, Ieva Lazareviciute fala do desempenho do Brasil nos Objetivos do Milênio e das metas para o futuro
//Por Cinthia Rodrigues
Em 31 de dezembro deste ano esgota-se o prazo para o mundo cumprir os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), instituídos pelo Programa para o Desenvolvimento das Nações Unidas (Pnud). Sabe-se desde já, porém, que nem tudo será atingido. A meta 2, por exemplo, que trata da universalização da educação primária no mundo, não será alcançada. Nascida na Lituânia, a oficial do Pnud Ieva Lazareviciute veio ao Brasil para acompanhar os esforços de cumprimento das metas no País. Ieva elogia programas como o Bolsa Família, programa de transferência condicionada de renda que almeja a redução da pobreza extrema, mas afirma que ainda há questões importantes, como o aborto. “Não é um assunto moral, mas de saúde pública mesmo”, afirma. A redução da pobreza, a universalização do ensino básico, a igualdade de gênero, a redução da mortalidade infantil, a melhora da saúde materna, o combate ao HIV, a garantia da sustentabilidade ambiental e o estabelecimento da Parceria Mundial para o Desenvolvimento são os oito objetivos do milênio. 
 
Em setembro, serão lançados os Objetivos Sustentáveis de Desenvolvimento, que começarão a ser perseguidos a partir de 2016. “A grande diferença é que todos terão papel importante”, explica Ieva.
 
Carta Fundamental: Como e quando os objetivos do milênio foram definidos?
Ieva Lazareviciute: O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento foi criado para trabalhar com a paz, o respeito aos direitos humanos e a promoção do contexto no qual esses direitos poderiam ser garantidos. Os objetivos apareceram como a evolução desse pensamento, a partir de estudos, pesquisas e reflexões. Consolidou-se o entendimento do que é desenvolvimento para além do crescimento econômico, abrindo para aspectos sociais, de saúde, de longevidade, de qualidade vida etc. Depois, como isso se promove por meio de políticas públicas, ou seja, o que significa de fato, na realidade, no dia a dia das pessoas. Foi travado um diálogo bastante amplo entre as lideranças globais e chegou-se a um conjunto de objetivos e metas que podem ser incorporadas e resultar em políticas com prazo definido de 15 anos, que acaba agora em dezembro de 2015. 
 
CF: Como foi a disputa pelo estabelecimento das metas?
IL: Era um processo de negociação em Nova York, na sede da ONU. É importante enfatizar que o processo de implementação do trabalho em prol dos objetivos nos mostrou uma coisa: não dá para fechar esse diálogo a esse círculo de técnicos, políticos e diplomatas. Tem de ser participativo, de baixo para cima. Esse aprendizado foi extremamente importante. Com base nele, a nova geração de Objetivos Sustentáveis, que foi iniciada na Rio + 20, evento que ocorreu no Rio de Janeiro em 2012, vai ser completamente diferente. Terá consultas à sociedade civil. Isso mostra como a humanidade e a própria ONU aprenderam com os Objetivos do Milênio.
 
CF: O primeiro objetivo é o ligado à pobreza. Por quê?
IL: A erradicação da pobreza e o fim da fome estão interligados. O ODM 1 tem meta de reduzir pela metade até 2015 a proporção da população com renda abaixo da linha da pobreza e a proporção da população que tem fome. Acho que a questão de acesso à renda contínua e a satisfação das necessidades de nutrição são essenciais para as demais metas, como a questão da saúde, da mulher e da criança. 
 
CF: Como foi o resultado?
IL: A pobreza foi reduzida no Brasil e no mundo, devido ao desenvolvimento econômico e aos diversos programas de transferência de renda. O Brasil ultrapassou a meta. Como em qualquer objetivo, no entanto, é preciso olhar para além das metas. Como um todo fomos bem, mas, se olharmos para situações de territórios, municípios e comunidades mais vulneráveis, por exemplo, para a mulher negra brasileira, o resultado não foi atingido. Ou se olharmos para a Síria e outros que estão sob grandes conflitos, a gente observa não só que não houve avanço, como também houve retrocesso. Não podemos ficar descansando e tranquilos. 
 
CF: Quais foram as estratégias do Pnud para que eles fossem alcançados?
IL: Temos algumas linhas de ação que se complementam. Tudo começa pela disseminação dos ODMs e sensibilização. Se você fala de algo que ninguém está sabendo, não faz muita diferença. Depois, monitoramento: quais são os indicadores? Qual a situação do local onde eu moro? Como eu vejo essa situação em cada meta? É um trabalho extremamente importante. Em alguns países é o Pnud que faz, em outros é o governo nacional assumindo a bandeira. No Brasil, nós colaboramos, mas o governo produziu o relatório. A terceira linha de trabalho é a municipalização. Vamos pegar, por exemplo, a ODM 6, que trata da malária e da Aids, vamos dizer que eu observe que no meu município não há casos. Então, esse ODM não quer dizer nada para mim? Às vezes não é malária, mas é dengue ou outra doença que está lá perturbando os meus vizinhos e a minha população. Esse é um processo extremamente importante e que ajuda a adaptar o objetivo global para a realidade local. Outra linha de atuação é a identificação de algumas soluções, mapeamento de boas práticas, iniciativas de prefeituras, às vezes estaduais, metodologias que contribuem e podem ser utilizadas para encaminhar uma solução.
 
CF: Quais foram os maiores êxitos no Brasil?
IL: Duas ótimas práticas de política pública do Brasil foram mapeadas pela ODM 1. O Programa de Aquisição de Alimentos e o Bolsa Família. Cada uma delas foi avaliada e destacada globalmente, por vários organismos, não só da ONU. Não quer dizer que os programas não tenham opções de melhora. Como qualquer outro programa, eles podem evoluir também. Mas ajudaram muito o Brasil a avançar e a tirar muitas pessoas da situação de pobreza e fome perpétua. 
 
CF: Quais objetivos não foram alcançados? 
IL: Educação e mortalidade materna são exemplos. Observamos também que muda a conjuntura: algo que não foi desafio ontem, hoje vira desafio, assim como algo que era desafio pode se resolver de uma hora para outra. No caso do HIV-Aids, tem-se observado a redução como resposta a várias políticas, campanhas e também aos avanços na medicina. Quando avaliamos criticamente a falta de avanço, é preciso avaliar o dado desagregado, por exemplo, o ODM 1 no âmbito nacional foi alcançado, agora a questão é se a pobreza foi erradicada tanto nas capitais como no interior, ou tanto em São Paulo quanto no Amazonas. O avanço em qualquer país é mais rápido no início porque há muita demanda acumulada e a solução é mais fácil e causa maior impacto. Depois surgem os aspectos mais desafiadores e mais difíceis de resolver. 
 
CF: É o caso da Educação, avançou menos porque é mais complexo?
IL: A questão depende muito do que a gente avalia e como é formulada a meta nacional ou municipal. De fato, a erradicação do analfabetismo, a matrícula das crianças no Ensino Fundamental, a igualdade entre meninos e meninas e a permanência na escola não são fenômenos simples. Aí, começamos a esbarrar nos processos qualitativos e não só quantitativos, como os Enems da vida para ver como o aluno sai desse ensino. Por isso que avaliar o ODM torna-se tão complexo, porque não são só os números crus a ser avaliados. Acabamos desagregando também pela cor, pela situação financeira, pelo território. Torna-se um assunto mais complexo para se encaminhar uma solução. 
 
CF: A partir de 2016, o Brasil precisa garantir vaga para todos entre 4 e 17 anos. A partir do que ocorreu com a meta do Pnud, o que a senhora diria dessa legislação e de suas chances? 
IL: O importante é que o resto do complexo de políticas públicas também reforce essa legislação. Por exemplo, o que contribuiu muito com o acesso e a permanência no Ensino Fundamental e Médio foi o Bolsa Família, porque uma das condicionalidades foi frequência escolar. Agora, se as políticas que formam esse contexto como um todo também amarrarem essa exigência de frequentar a escola, como estar 85% do ano letivo presente até os 15 anos, isso reforça muito e ajuda. A questão é de análise e progresso das lições aprendidas e é isso que a gente também está trabalhando no âmbito das Nações Unidas. Ter a chance de produzir um impacto bom é muito importante.
 
CF: Sobre o ODM que trata de gênero, foi frisado no relatório do Brasil que os homens não têm tido o mesmo acesso que as mulheres em educação, por que esse enfoque?
IL: Acho que a gente tem de olhar um pouco do ponto de vista da história. Os papeis masculinos e femininos na sociedade. A mulher, no histórico, muito mais no passado do que hoje em dia, tem sido vista como pessoa que cuida da casa e o homem como responsável pelo mundo, pelo sustento, por defender a família. Isso acabava criando uma pressão nos meninos para se desligarem mais cedo dos estudos e da infância para ir trabalhar. O que a gente está vendo ainda é resquício desse histórico, que assim como o racial ainda é muito forte, eu avalio. Muito desse histórico patriarcal, dos gêneros, se vê em diversos aspectos, incluindo a participação menor das mulheres na vida política e nos cargos mais bem pagos, também leva o menino a sair mais cedo do caminho do estudo. Além de vários outros aspectos a analisar, como se a escola e o conteúdo são adequados para o adolescente. 
 
CF: Como a senhora vê o pouco avanço na saúde materna em comparação ao bom resultado na saúde infantil no Brasil? Acha que a política recente de reversão das taxas de cesárea é um caminho para alcançar o objetivo?
IL: Há situações de emergência que exigem intervenção cirúrgica. Acho que a política será positiva, desde que não seja também extrema. É um assunto dolorido e controverso. O atendimento pré-natal tem dado resultados importantes para a mulher e para a criança. Acaba preparando para o processo de gravidez, de parto e impactando em pessoas melhores para a situação pós-parto, que é extremamente importante. É uma etapa que muitas vezes cria muita pressão para a mulher, porque é quase obrigatório ser feliz e, às vezes, você não consegue curtir por estar cansada, ou machucada, ou deprimida. Tudo isso é importante, mas existe outro tema controverso que precisa ser tratado: aborto. Sabemos que o dado estimado é de 800 mil abortos por ano, com muitas mulheres falecendo. Só esse número já torna o assunto não mais moral, mas de saúde pública mesmo. Acabamos em uma situação triste, em que as mulheres, principalmente as mais pobres, não têm acesso a cuidados de boa qualidade e acabam falecendo ou ficando com sequelas para a vida inteira, num processo em que ela não recebe o devido cuidado e fica criminalizada. Esse assunto é um problema importante de saúde pública. Obviamente, em um contexto limpo e bem preparado, você tem maiores chances de não ter sequelas, a não ser a psicológica, afinal aborto não é situação leve, não é de alegria, é uma saída para mulheres sem outra opção. 
 
CF: Como está o processo para a determinação de novos objetivos? 
IL: Os próximos objetivos chamam-se Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que já constroem acima das experiências, das lições aprendidas nos ODMs. No momento existem 17 itens, 16 temáticos e um de meios. O processo passou por consulta ampla e participativa. Uma crítica aos ODMs é que eles se aplicavam mais a países em desenvolvimento e que os desenvolvidos não enxergaram como algo que seria relevante para eles. Agora, no caso dos ODSs, foram diretrizes que terão de ser aplicáveis para todos, não importa se na Noruega ou Nigéria, ou Brasil, ou Estados Unidos, ou Japão. Serão finalizados em setembro na Assembleia-Geral da ONU e entrarão em foco a partir de janeiro de 2016, com o mesmo prazo de 15 anos. Este ano, estes últimos meses, são o último empurrão para os ODMs. Queria anotar que o Brasil também já está se preparando para a adoção dos ODSs, no sentido de mapear as políticas e os indicadores que já existem. 
 
CF: Qual será a maior diferença?
IL: Tudo é aprendizado. Os primeiros 15 anos forneceram muito subsídio. Os Objetivos Sustentáveis só serão alcançados se todos colaborarem. Não há como falar que é responsabilidade do governo e pronto. O papel do setor privado é essencial. Se nos ODMs ainda era possível encaminhar por meio de políticas públicas, nos ODSs, não. Tem de mudar o jeito de fazer o negócio. Outro aspecto importante é a questão da democracia participativa, da promoção de projetos. Todos têm parte, todos têm papel e podem fazer a diferença. 
 
http://www.cartafundamental.com.br/single/show/393/o-brasil-e-os-objetivos-do-milenio

Publicado na edição 67, de maio de 2015 

terça-feira, 25 de agosto de 2015

: Carta argumentativa. Tema: o piloto suicida


Leia a coletânea.
Atenção para a acusação que Felipe Moura Brasil (texto3) fez ao psicanalista Joel Birman (texto 2)m - cuja tese é a de que não se pode prever casos de depressão. 

PROPOSTA

Você é um piloto que sofre de depressão;mas que está em tratamento. Leu o artigo de Felipe Moura Brasil e enfureceu-se.  
 Escreva uma carta a ele, mostrando que não se pode prever a depressão e que, além disso, se a imprensa começar a alardear que a depressão é uma doença que pode colocar pessoas em perigo, o preconceito contra ela crescerá.
Argumente, seja educado ( a ironia leve é permitida) na carta que deverá ter no mínimo 25 linhas.

TEXTO 1
Em segundo lugar, cabe refletir sobre a impotência da Medicina para identificar as pessoas com reais problemas, e que constituem ameaças para a vida em sociedade, e esta dificuldade é ainda maior no campo da Medicina do Trabalho. Como bem adverte o Prof. Joel Birman, psicanalista e Professor Titular do Instituto de Psicologia da UFRJ, “não será com atestados de psiquiatras, psicanalistas e psicológicos que vamos conseguir controlar atitudes como a do piloto suicida”. Para ele, não existe nenhuma possibilidade de que a Psiquiatria possa prever atos trágicos como esse. “Na época de gestão de riscos é preciso dizer, em alto e bom som, que as normas não conseguem controlar nem o desejo nem o que existe e imprevisível no sujeito”, conclui o Professor. Aliás, a relativa inutilidade dos exames médicos admissionais também se aplica à maioria de outras situações.http://www.saudeocupacional.org/2015/05/a-tragedia-do-germanwings-e-a-medicina-do-trabalho.html

Texto2

O Estadão não permite copiar o texto de Birman. Acesse o link. Leia tudo. Anote os argumentos dele.


Texto 3
O psicanalista Joel Birman escreveu em artigo publicado no Estadão de sábado que as conclusões “simplistas” sobre a tragédia da Germanwings “contribuem para aumentar o preconceito contra as pessoas portadoras de alguma forma de perturbação psíquica”.
(...)
Na época da gestão de riscos, é preciso dizer, alto e bom som, que:a) Certas doenças (como a depressão grave) são incompatíveis com certas profissões (como a de piloto de aeronaves), ainda que nem sempre a pilotagem vá resultar em tragédias e que a depressão não explique – muito menos justifique – um crime como o citado.
b) O nome disso é medida de segurança contra a morte de inocentes, seja ela provocada por ação intencional ou por acidente. Quem chama de “preconceito”, de modo irrestrito, é cúmplice moral de tragédias potenciais.
c) Joel Birman tem de tomar mais cuidado para que sua defesa dos limites da psiquiatria não resulte na defesa de uma tolerância com níveis evitáveis de risco de morte.
d) A psiquiatria não pode prever atos trágicos como o da Germanwings, mas pode diagnosticar a saúde mental de pilotos para que as companhias e as autoridades de tráfego aéreo saibam quais deles apresentam quadros incompatíveis com o exercício de suas funções.
e) Lufthansa e Andreas Lubitz foram cúmplices no ato que matou 150 pessoas.
Felipe Moura Brasil  http://www.veja.com/felipemourabrasil
..............
Texto 4 
pilotoDepressão poderia ter causado acidente?
A depressão é uma doença séria, que afeta cada pessoa de maneira diferente. Indivíduos que sofrem de depressão podem atingir um estado tal de alienação que são capazes de tentar tirar as próprias vidas – mas a maioria das pessoas deprimidas não tentaria causar dano a ninguém além de si mesmas.
A psicóloga britânica Jennifer Wild, da Universidade de Oxford, disse ao jornal The Times que o "pensamento irracional" por trás das ações de Lubitz na cabine podem ter sido motivados por depressão causada por algum episódio traumático recente. "Talvez nesse estado ele não tenha considerado as consequências de suas ações, ou talvez não se importasse por estar consumido pela ideia de pôr fim a sua vida", afirma.
Wild diz ainda que o uso de drogas ou um acesso extremo de raiva também poderia explicar tais ações.
No entanto, o registro da caixa preta do avião mostra o que seria a respiração calma de Lubitz enquanto supostamente apertava botões que levariam o avião à queda. Isso levou à especulação de que o copiloto poderia ser um psicopata. No entanto, Wild explica que psicopatas geralmente evitam infligir dano a si mesmos.
"Devemos ter cuidado para não fazer julgamentos apressados", disse o professor Simon Wessely, presidente do Royal College of Psychiatrists, na Grã-Bretanha. "Se realmente for comprovado que o piloto tinha um histórico de depressão, precisamos nos lembrar que milhões de pessoas também têm, incluindo pilotos que conduzem voos com total segurança até muitos anos depois de serem tratados."
"A depressão geralmente é tratável. A maior barreira para que as pessoas consigam ajuda é o estigma e o medo de serem descobertas. Neste país, percebemos uma diminuição recente desse estigma e uma abertura maior para buscar ajuda. Recomendamos evitar decisões apressadas que podem tornar mais difícil que pessoas com depressão recebam o tratamento apropriado", alerta.http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/03/150327_lubitz_depressao_cc




sábado, 22 de agosto de 2015

Tema : solidariedade. Ex-mendigo&moradores de rua

Escreva uma dissertação que observe o esquema:

1 - Mostre a importância da solidariedade nos dias de hoje ( Introdução). Use trechos do texto 1, pode copiar, usando aspas ou parafrasear. 

2 - Na argumentação, utilize o exemplo do texto 2. Resuma a reportagem e transforme-a em exemplificação.

3 - Apresente uma proposta de intervenção que resgate o exemplo do homem que se dedica aos moradores de rua, mas amplie isso, expondo outras soluções que achar convenientes.


TEXTO 1

Ser solidário está na moda, é politicamente correto e se apresenta no cenário social como possível saída para as mazelas da humanidade em tempos de globalização imperial, de exclusão e crescente miséria. A visibilidade que o tema da solidariedade apresenta hoje, através da proliferação de inúmeras campanhas para sua difusão, parece apontar para a necessidade de reconstruir as relações sociais e, a partir delas, o mundo. Hoje convivem campanhas governamentais e não-governamentais contra a fome, para a erradicação da miséria, campanhas para colher doações desde dinheiro até plasma, campanhas de assistência e ajuda aos necessitados, aos excluídos, a algumas minorias. Ao mesmo tempo, surgem apelos ao voluntariado, à responsabilidade civil de mega empresas capitalistas, campanhas para conscientização e responsabilização social e ecológica. Estes apelos partilham o palco com t i c k e t s mágicos, desfalques, rombos e muita impunidade, tudo se misturando em nossas mentes e corações contemporâneos e globalizados, gerando perguntas, questionamentos. A imensa quantidade de campanhas para difundir a solidariedade parece querer nos dizer o “que deve ser feito”, e parece apelar à responsabilidadeda sociedade para com todos, como maneira de preencher o campo social fragmentado e esfacelado pelo liberalismo, numa tentativa de transformação social. Também pensamos na necessidade de reconstruir o mundo, mas nos pe rguntamos se esta é a via mais apropriada. Questionamos o sentido1 do conjunto das campanhas de solidariedade, como um fato social com alta visibilidade hoje, que se nos impõe com força modelar e normativa e tem como função, aparentemente, tentar “ligar as individualidades” isoladas umas das outras, ilhadas e sem contato. Através da desconstrução da “função” de tais campanhas solidárias, elas se posicionam como um assistencialismo que atua como mero paliativo, reforçando em certo sentido a aceitação da exclusão e da miséria, sem se orientar para a transformação de suas causas.2 A “solidariedade por decreto”, como a denominamos, é a do “d e v e r se r” e se apresenta, no nosso entender, como a mais clara declaração de ineficácia do antigo padrão “individualista” que modelou as subjetividades, isolando-as umas das outras, deturpando desta maneira sua “potência”.3 Hoje, o “individualismo” parece haver chegado ao limite do seu próprio paradoxo: a individualidade, encurralada dentro de rígidos e padronizados muros, “dócil e endividada”,4 precisa se reinventar, recriar-se no contato com os outros. Para sobreviver, precisamos nos “abrir” aos contatos, às trocas: tal parece ser a mensagem inserida nas inúmeras ações de solidariedade que vêm sendo impulsionadas hoje, obrigando quase a perceber “o outro”, a “incluí-lo” como condição de continuidade da vida em sociedade.

(...)
Nosso horizonte é o delineamento de um conceito de solidariedade que sirva como guia e indicador de ações solidárias. A “solidariedade por convivência” visa a transformação estrutural da sociedade, consolidando uma nova ética que se manifeste em todas as relações micro-políticas do cotidiano, promovendo o agenciamento de processos de singularização e efetivando a ação articulada em um projeto político. Porque o ser não apenas vive, ele “con-vive, vive-com”, dando ao conceito de “solidariedade” uma conotação que vai alem da cooperação e a participação: a solidariedade torna-se constitutiva, ontológica. http://uninomade.net/wp-content/files_mf/113003120826Solidariedade%20subjetividade%20coletiva%20e%20filosofia%20do%20desejo%20-%20Telma%20Mariasch.pdf


TEXTO2

Depois de ter sido morador de rua e viciado em drogas, Eduardo trabalha para recuperar pessoas que estão em situações precárias. Todo tipo de doação é bem-vinda

Por: Manoela Tomasi - Especial
22/08/2015 - 07h04min
Ex-mendigo dedica a vida para ajudar necessitados de Porto Alegre Ronaldo Bernardi/Agencia RBS
José Eduardo da Silva virou missionário e ajuda outros moradores de ruaFoto: Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
— Há uns dois anos, eu era magro, cabeludo, andava de pés descalços, com a roupa rasgada, toda suja de fezes e urina, e tinha mais ou menos um centímetro de lodo no corpo. Ninguém aguentava ficar perto de mim, nem mesmo os outros mendigos.

Projeto social alimenta moradores de rua aos domingos em Porto Alegre

Assim começa o desabafo de um ex-morador de rua e ex-viciado em drogas, que viveu cerca de três anos perambulando pelas praças de Porto Alegre. José Eduardo da Silva Flores, 30 anos, precisou chegar no fundo do poço para enxergar que a situação deplorável em que vivia tinha uma saída.

Troca de bolachas em escolas espalha paz entre as crianças de Portão

Foi pela influência de amigos que Eduardo entrou no mundo das drogas, quando tinha 17 anos. Aos 26, mesmo casado e com uma filha, ele preferiu deixar a residência em que morava para ir dormir nas calçadas, por conta da dependência química.

— Assim como a maioria dos viciados, comecei com a maconha, a grande porta de entrada. Daí, fui para a cocaína e o crack, a droga mais acessível. Foi eu mesmo quem me pus para fora de casa. Queria liberdade, consumir sem culpa — conta Eduardo que, enquanto morava nas ruas, chegou a usar 25 pedras de crack por dia.

Albergue Dias da Cruz pode fechar por dificuldades financeiras


Sem nunca ter roubado, ele fala, com vergonha, que chegou a trocar objetos de dentro de casa por drogas.

— Quando eu optei pelo vício, perdi tudo. Tudo, tudo, tudo que eu tinha. Perdi minha família, meus amigos, minha dignidade, e passei a viver como um bicho. Eu comia restos direto do lixo, até mesmo a comida que estava misturada com lixo de banheiro — diz o jovem.
Recuperação

Foi em uma manhã de domingo, há dois anos, que Eduardo chegou, pela primeira vez, na Igreja Evangélica Templo de Oração, na Rua Oscar Pereira, na Zona Sul de Porto Alegre, levado pelo estômago.

— Eu não queria nem saber de religião, eu estava era com fome mesmo. Vi que eles estavam dando comida para os moradores de rua. Peguei meu prato de sopa e comecei a prestar atenção no que o pastor dizia. Aquilo tudo fez sentido para mim, me identifiquei e pedi ajuda na igreja — conta o missionário.

Ele recebeu atenção dos pastores e conseguiu morar no local. Com apoio da religião, Eduardo decidiu se recuperar por conta própria e, desde então, nunca teve uma recaída.

— Nunca fui para um centro de recuperação, foi força de vontade. Quando percebi que estava recuperado, senti que precisava voltar aos locais onde passei e ajudar o pessoal da rua. O mendigo é invisível na sociedade, as pessoas passam e não enxergam um ser humano. Por já ter sido como eles, sei do quanto eles precisam de atenção — conta.

Impulsionado pelo desejo de ajudar os necessitados, ele passou a receber doações de comida, roupas e dinheiro para criar o projeto Missiões e Evangelismo Valentes de Davi. Há um ano, Eduardo cozinha, em sua própria casa, todos os dias cerca de 20 marmitas e distribui para moradores de rua. 

 
Fotos Ronaldo Bernardi/Agência RBS

— A pior coisa é quando eu estou entregando a última marmita e aparece mais um morador de rua para comer. Me dá vontade de chorar por não ter mais um prato para oferecer _ junto com a comida, ele conversa com os mendigos e faz uma oração. No fim da tarde, o missioneiro leva agasalhos e lanches, como sanduíche e leite, para crianças das vilas de Porto Alegre.

— Resolvi ajudar também crianças em situação de extrema miséria, justamente por serem o futuro da humanidade. Quando forem mais velhas, vão lembrar de um gesto de carinho que receberam no passado, e isso pode mudar o rumo das suas vidas _ revela Eduardo, que entrega as quentinhas sozinho, às vezes de bicicleta, amarrando os potes em uma sacola, às vezes de carona.


Final feliz

Depois de enfrentar tantos medos nas ruas, como frio e fome, Eduardo hoje dorme em uma cama quentinha. Paralelo ao projeto do bem, ele é missionário da Igreja Evangélica e passou a dar palestras e pregar as palavras do evangelho em igrejas de todo Estado. Com a remuneração destes trabalhos, paga o aluguel da casa, onde mora com a esposa e onde recebe a filha todos os finais de semana. 

À convite de uma entidade, Eduardo viaja, no dia 1o de setembro, rumo a Goiânia, em Goiás, onde irá mostrar seu trabalho durante 15 dias.

— Comecei esse trabalho e não paro mais. O meu maior desejo é poder entregar 200 pratos de comida por dia. Se eu morrer agora e tiver conseguido recuperar uma pessoa, já valeu a pena!

A rotina da solidariedade

O Diário Gaúcho acompanhou um dia na vida de Eduardo Flores. Logo de manhã, ele se preparou para ir às ruas: separou roupas infantis, cozinhou feijão, arroz, massa e molho, preparou sanduíches e leite com achocolatado. 

 
 
A reportagem foi com o missionário e o pastor Sergio Amaral ao viaduto da Borges de Medeiros e o da Conceição, os dois no centro de Porto Alegre, onde foram entregues as quentinhas.

Ao falar palavras de fé e de esperança, os moradores de rua se emocionaram com o gesto. Cledilson Rafael Jardim Dutra, 22 anos,  é de Santa Catarina, mas foi preso no Rio Grande de Sul por tráfico de drogas. Depois de quatro anos preso em Charqueadas, ele voltou para Porto Alegre e mora na rua há seis meses. 

— O cara se acostuma com a vida na rua, aqui tudo é mais fácil. Lá na minha cidade, Balneário Camboriu, eu tenho tudo que eu preciso. Mas falta coragem para voltar. A gente se emociona quando alguém se importa com nossa situação — fala Cledilson com lágrimas nos olhos.

No fim do dia, fomos para o Beco X, na avenida Voluntários da Pátria, no Bairro Humaitá, onde moram cerca de 350 famílias em condições precárias. Mais de 20 crianças ganharam lanche da tarde, roupas e palavras de incentivo para um futuro melhor.

Como você pode ajudar?

- Eduardo Flores tem uma página no Facebook, a Missões e Evangelismo Valentes de Davi, onde você pode conhecer as ações voluntárias do projeto.
- Com urgência, Eduardo precisa de doação de alimento, marmitex para as quentinhas, colheres de plástico e caixas de plástico grandes para colocar sanduíches.
- O missioneiro busca ajuda financeira para tirar a carteira de motorista e, até mesmo, aceita doação de carro ou kombi para não depender de caronas.
- Para entrar em contato e saber informações bancárias para ajuda financeira, os telefones são: 8418-2343 ou 8556-9516.
http://zh.clicrbs.com.br/rs/porto-alegre/noticia/2015/08/ex-mendigo-dedica-a-vida-para-ajudar-necessitados-de-porto-alegre-4830282.html?utm_source=Redes%20Sociais&utm_medium=Hootsuite&utm_campaign=Hootsuite


Enem e outros: “o problema do lixo no Brasil"


   PARA O ENEM
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo na modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “o problema do lixo no Brasil”, apresentando proposta de intervenção, que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

Instruções 

1. O rascunho da redação deve ser feito no espaço apropriado.
2. O texto definitivo deve ser escrito à tinta, na folha própria, em até 30 linhas.
3. A redação com até 7 (sete) linhas escritas será considerada “insuficiente” e receberá nota zero.
4. A redação que fugir ao tema ou que não atender ao tipo dissertativo-argumentativo receberá nota zero.
5. A redação que apresentar proposta de intervenção que desrespeite os direitos humanos receberá nota zero.
6. A redação que apresentar cópia dos textos da Proposta de Redação ou do Caderno de Questões terá o número de linhas copiadas desconsiderado para efeito de correção.

OUTRA INSTRUÇÃO
Dissertação (USP, Unesp, etc.)
Faça uma dissertação argumentativa sobre a seguinte pergunta:

Como gerar menos lixo pode ser estimulante para o desenvolvimento econômico de uma sociedade?

Instruções:
1. Lembre-se de que a situação de produção de seu texto requer o uso da norma padrão da língua portuguesa.
2. A redação deverá ter entre 25 e 30 linhas.
3. Dê um título a sua redação.
MAIS INSTRUÇÕES
carta pessoal (UFU, Unicamp, UEL, etc.)
Faça uma carta pessoal a fim de convencer um amigo a começar a separar lixo para reciclagem na casa dele.

Instruções UFU:
1. Após a escolha de uma das situações, assinale sua opção no alto da folha de resposta e, ao redigir seu texto, obedeça às normas do gênero selecionado.
2. Se for o caso, dê um título para sua redação. Esse título deverá deixar claro o aspecto da situação escolhida que você pretende abordar.
3. Se a estrutura do gênero selecionado exigir assinatura, escreva, no lugar da assinatura: JOSÉ OU JOSEFA. Em hipótese alguma escreva seu nome, pseudônimo, apelido, etc. na folha de prova.
4. Utilize trechos dos textos motivadores (da situação que você selecionou) e parafraseie-os.
5. Não copie trechos dos textos motivadores, ao fazer sua redação.
6. Mínimo de 25 e máximo de 30 linhas.
7. ATENÇÃO: se você não seguir as instruções da orientação geral e as relativas ao tema que escolheu, sua redação será penalizada.

Situação 2015-11D - Carta argumentativa (Uniube, UFU, Unicamp, UEL, etc.)
Escreva uma carta argumentativa ao prefeito de sua cidade com questionamentos e propostas de melhoria da gestão do lixo em sua cidade.

Instruções:
1. Após a escolha de uma das situações, assinale sua opção no alto da folha de resposta e, ao redigir seu texto, obedeça às normas do gênero selecionado.
2. Se for o caso, dê um título para sua redação. Esse título deverá deixar claro o aspecto da situação escolhida que você pretende abordar.
3. Se a estrutura do gênero selecionado exigir assinatura, escreva, no lugar da assinatura faça estritamente o que estiver informado na prova ou no caderno do candidato, no caso desta proposta passe um traço (Uniube) ou deixe sem assinatura.
4. Utilize trechos dos textos motivadores (da situação que você selecionou) e parafraseie-os.
5. Não copie trechos dos textos motivadores, ao fazer sua redação.
6. ATENÇÃO: se você não seguir as instruções da orientação geral e as relativas ao tema que escolheu, sua redação será penalizada.
7. Mínimo de 25 e máximo de 30 linhas.

Instruções Uniube:
1. No lugar da assinatura, coloque um traço.

Situação 2015-11E – Artigo de opinião (UFU, Unicamp, UEL, etc.)
Faça um artigo de opinião sobre a relação entre lixo, sustentabilidade e geração de energia.

Instruções:
1. Após a escolha de uma das situações, assinale sua opção no alto da folha de resposta e, ao redigir seu texto, obedeça às normas do gênero selecionado.
2. Se for o caso, dê um título para sua redação. Esse título deverá deixar claro o aspecto da situação escolhida que você pretende abordar.
3. Se a estrutura do gênero selecionado exigir assinatura, escreva, no lugar da assinatura faça estritamente o que estiver informado na prova ou no caderno do candidato, no caso desta proposta passe um traço (Uniube) ou deixe sem assinatura.
4. Utilize trechos dos textos motivadores (da situação que você selecionou) e parafraseie-os.
5. Não copie trechos dos textos motivadores, ao fazer sua redação.
6. ATENÇÃO: se você não seguir as instruções da orientação geral e as relativas ao tema que escolheu, sua redação será penalizada.
7. Mínimo de 25 e máximo de 30 linhas.

Situação 2015-11F – Editorial (UFU, Unicamp, UEL, etc.)
Escreva um editorial sobre a gestão do lixo eletrônico no Brasil.

Instruções:
1. Após a escolha de uma das situações, assinale sua opção no alto da folha de resposta e, ao redigir seu texto, obedeça às normas do gênero selecionado.
2. Se for o caso, dê um título para sua redação. Esse título deverá deixar claro o aspecto da situação escolhida que você pretende abordar.
3. Se a estrutura do gênero selecionado exigir assinatura, escreva, no lugar da assinatura faça estritamente o que estiver informado na prova ou no caderno do candidato, no caso desta proposta passe um traço (Uniube) ou deixe sem assinatura.
4. Utilize trechos dos textos motivadores (da situação que você selecionou) e parafraseie-os.
5. Não copie trechos dos textos motivadores, ao fazer sua redação.
6. ATENÇÃO: se você não seguir as instruções da orientação geral e as relativas ao tema que escolheu, sua redação será penalizada.
7. Mínimo de 25 e máximo de 30 linhas. fONTE DAS INSTRUÇÕES, http://www.opera10.com.br/2014/09/redacao-proposta-2014-64-enem-lixo.html

Texto 1
Hoje qualquer consumidor da maior capital da América Latina tem como saber exatamente quanto custa uma sacola plástica no supermercado. Até recentemente, o custo de uma sacola menor, mais frágil e barata estava embutido no preço das mercadorias compradas, da mesma forma que os gastos com a água, a energia, a mão de obra e todos os demais custos relacionados à operação.
Agora, um novo modelo, maior, mais resistente, mais ecológico e bem mais caro, é cobrado de forma transparente e justa. Todo o consumidor tem o poder de escolha: optar pela comodidade e pagar por ela ou não.
Como era de se esperar, a nova legislação levantou críticas ao mexer com um hábito arraigado por décadas. Leves e impermeáveis, as sacolas foram distribuídas sem custo aparente, criando-se um cenário propício ao consumo desmedido: atualmente cada paulistano consome, em média, 708 unidades ao ano, segundo a Prefeitura.
Nos países da União Europeia, o consumo 3,6 vezes menor, de 198 sacolas, foi considerado alarmante, levando o Parlamento a fixar uma meta de redução para as 28 nações do bloco, de 40 sacolas anuais por cidadão até 2025.
As críticas às medidas de redução do uso de sacolas plásticas trazem à mente a Tragédia dos Comuns. Descrita há quase 50 anos pelo ecologista Garrett Hardin, a teoria explica como um grupo de pessoas tende a agir em proveito próprio quando acredita que seu benefício individual é grande e o prejuízo do outro é diminuto.
Isso leva muita gente a jogar a bituca de cigarro no chão –achando que não faz diferença– sem pensar nas milhões de bitucas pelas ruas; ou o morador de condomínio decidir não economizar água, já que o seu gasto superior será dividido entre os demais.
Quando o esforço individual não é notado para o grupo como um todo, defende o economista e cientista social Mancur Olson, o benefício coletivo depende da "coerção ou indução externa que leve os membros do grande grupo a agirem em prol de seus interesses comuns".
É difícil aceitar essa ideia nos tempos atuais, em que a liberdade individual de decisão de consumo é tão enaltecida. Mas foi assim que o brasileiro se acostumou com o uso do cinto de segurança, parou de fumar em lugares públicos e passou a temer ser pego dirigindo embriagado.
O momento atual nos obriga a repensar hábitos, falsas comodidades e consumo de produtos que demandam excesso de água e energia para a sua fabricação. Afinal, no caso do plástico, o futuro da própria reciclagem está em xeque.
Matéria recente do jornal Wall Street Journal mostra que a reciclagem do plástico deixou de ser um negócio lucrativo depois da queda superior a 50% no preço do barril de petróleo. A reportagem aponta que duas recicladoras quebraram desde dezembro na Europa e que a britânica ECO Plastics, "a maior processadora mundial de plásticos", entrou em recuperação judicial.
Nos Estados Unidos, os novos contratos entre prefeituras e recicladoras já não garantem mais um preço mínimo de pagamento pelo plástico para reciclagem. Claro que lá o custo municipal para manter os aterros deverá levar as prefeituras e persistirem na reciclagem, mesmo tendo prejuízo.
Mas não é o que acontece no Brasil, onde a proibição dos lixões, que deve completar um ano em agosto, ainda não saiu do papel em muitas regiões do país.
O cenário atual aponta que, no tripé dos erres da reciclagem, ou seja, reduzir, reciclar e reaproveitar, o R de reduzir é cada vez mais relevante. Reciclar é ótimo, mas não produzir lixo é muito melhor. Afinal, as cidades mais limpas, não são as que mais limpam, mas as que menos sujam.
CARLOS CORREA, 51, é superintendente da Associação Paulista de Supermercadoshttp://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2015/08/1667418-reduzir-a-producao-de-lixo.shtml

Texto 2
Na contramão do bom senso e da sustentabilidade, a produção de lixo residencial urbano aumentou 29% no Brasil nos últimos dez anos. Só em 2014, foram geradas 78,6 milhões de toneladas de resíduos, um crescimento de 2,9% em relação a 2013.
Por dia, cada habitante gera 1,062 quilo de resíduos, em média. Em Brasília, onde continua funcionando o maior depósito a céu aberto da América Latina, o Lixão da Estrutural, o índice é de mais de 1,5 quilo por pessoa. E cerca de 10% dos materiais sem serventia gerados na cidades brasileiras não são sequer coletados.
Apesar do aumento da geração de lixo, a quantidade de resíduos que tem destinação final adequada não se alterou significativamente desde que foi aprovada a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a PNRS, em 2010, que previa a erradicação dos lixões para agosto de 2014.
Em 2010, 57,6% do lixo era destinado corretamente para aterros sanitários. Depois de quatro anos, o número subiu para 58,4%. Ainda são 3.334 os municípios brasileiros que usam lixões e aterros controlados. Essas cidades colocaram, em 2014, cerca de 29 milhões de toneladas de lixo nesses locais.
A deposição fora dos aterros sanitários preparados para este fim resulta na disseminação de pragas urbanas, doenças para pessoas e animais, na contaminação dos solos, dos cursos d'água e dos rios subterrâneos, expandindo o problema de forma colossal, ainda mais em tempos de crise da água.
Os dados constam do último levantamento anual realizado pela Abrelpe, Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, e divulgado no último dia 28, em São Paulo. A pesquisa foi feita em 400 municípios, onde residem 91,7 milhões de pessoas, quase metade da população do país (200 milhões).
Segundo a entidade, a evolução da gestão de resíduos tem sido muito lenta no país, "Mais de 78 milhões de brasileiros (38,5% da população) não têm acesso a serviços de tratamento de resíduos e mais de 20 milhões sequer contam com a coleta regular de lixo", diz Carlos Silva Filho, presidente da Abrelpe.
Silva aponta também que os recursos aplicados em serviços de gestão de limpeza no país não acompanharam o crescimento do lixo gerado. O valor médio aplicado pelas administrações públicas foi de R$ 9,98 por habitante por mês em 2014 e era de R$ 9,95 por habitante por mês em 2010. "Considerando a inflação do período, o montante de recursos proporcionalmente caiu no período avaliado", diz.
Para quem quer um fio de esperança, o estudo da Abrelpe mostra que houve um pequeno aumento no número de cidades brasileiras que têm alguma iniciativa de coleta seletiva: em 2010 eram 57,6% e hoje são 64,8%. Vamos em frente. 

TEXTO 3
Não dá para eliminar o lixo, mas podemos diminuir sua produção, reduzindo o consumo e reutilizando sempre que possível. Outra ação importante é separar o lixo úmido ou de fácil decomposição como os restos alimentares (quase 60%) do lixo seco que demora mais tempo para decompor e ocupa muita área. O lixo é caro, mas se for tratado de maneira adequada, pode ser muito rentável, evitando ou minimizando a poluição dos solos e águas. 
Para que isso aconteça precisamos mudar alguns paradigmas, repensar nosso modo de vida e começarmos uma revolução de dentro para fora. Rever valores, mudanças de atitude para que todos tenham direito a vida. Reduzir o consumo não é consumir só o necessário, mas é bem possível eliminar supérfluos, reutilizar tudo que possível e o que não for, disponibilizar para a reciclagem. Todos sabemos como reduzir o consumo de energia, água, papel, alimento tanto em casa como no trabalho, precisamos apenas praticar isso.
A reutilização também está ao alcance de todos, na função original ou com um pouco de criatividade, podemos inventar muitas coisas. Reutilizar significa reduzir consumo, reduzir lixo, preservar habitats, preservando ou permitindo a vida de vários animais.
Reciclar no meio industrial ou empresarial significa reduzir consumo, reaproveitar matérias-primas para minimizar a poluição ambiental, gerando um produto mais competitivo. 
Precisamos trazer este conceito para nossa vida pessoal. Tudo que não for reutilizado por nós mesmos deve ser descartado separadamente para facilitar as cooperativas recicladoras. Além disso, é preciso cobrar ações mais enérgicas do nossos governantes no sentido de fortalecer estas cooperativas.
Os materiais orgânicos ou lixo úmido como plantas e animais, depois de mortos apodrecem e se decompõem pela ação das larvas, minhocas, bactérias e fungos. Desta forma, os elementos químicos que estes materiais contém voltam à terra (reciclagem natural). Quando o ambiente perde a resiliência, significa que a quantidade de lixo produzido é maior do que estes organismos conseguem absorver ou reciclar, portanto acumulam-se. Estimativas indicam que ultrapassamos em 30% a capacidade de resiliência do planeta. Grande parte deste lixo pode facilmente ser transformado em compostagem ou substrato para vasos e canteiros caseiros.
Quanto mais desenvolvido o país, mais complexo e difícil de separar, reciclar ou decompor seu lixo. No Brasil são gerados cerca de 230 mil toneladas de lixo anualmente, sendo que 59% deste lixo é orgânico ou úmido. São reciclados 13% da produção, o que significa que deixamos no lixo aproximadamente 10 bilhões de dólares por ano, pelo simples fato de não reciclar. Existem aproximadamente 600 cooperativas recicladoras no Brasil. Somente 2% do lixo são destinados a coleta seletiva.
O Japão recicla 50% de seu lixo e a Europa recicla 30%. Nos EUA são produzidos 420 mil t de lixo por ano, dos quais 27% são reciclados, 16% são incinerados e 57% enterrados. A Califórnia recicla 40% e pretende chegar a 100% em 2030.
Outro gargalo ou empecilho importante no Brasil são os canais de escoamento dos materiais reciclados. Normalmente, os catadores ou cooperativas ficam com 25% do lucro gerado e 75% ficam com os atravessadores. Uma das maneiras de se evitar isso é pela intervenção direta do governo, dando preferência ou orientando os órgãos públicos para adquirir produtos diretamente das cooperativas.
A destinação final dos resíduos sólidos constitui outro sério problema no Brasil. Apenas 32,2% de todos os municípios destinam adequadamente esses resíduos (13,8% em aterros sanitários e 18,4% em aterros controlados). Em 63,6% dos municípios, o lixo doméstico, quando recolhido, é simplesmente transportado para depósitos irregulares, os chamados "lixões". Para piorar a situação, nem todo o lixo é coletado e levado para os aterros. Uma boa parte fica depositado nas margens de rios e córregos. Mais de 90% do lixo em todo o país é jogado ao ar livre. A incineração do lixo é desprezível. Só o aterro sanitário do município de São Paulo faz isso em função dos Créditos de Carbono (reciclagem do gás metano e incineração dos demais gases).
O descarte errado do lixo acarreta em sérios problemas para a saúde pública por que dissemina doenças como a leptospirose, amebiose, diarreias infecciosas, parasitose, entre outras (Tabela 4). E ainda servem de abrigo para ratos, baratas, lacraias, urubus, que disputam os restos alimentares com pessoas de baixa renda. Além de contaminar os lençóis freáticos por meio do chorume (liquido altamente tóxico que resulta da composição da matéria orgânica associada com os metais pesados). 
O lixo pode ser classificado em função da consistência (sólido, líquido ou gasoso) e origem (residencial, comercial, industrial, hospitalar ou especial). Vamos tratá-lo em função da matéria-prima apenas. Grande parte dos materiais manufaturados não é biodegradável ou levam muito tempo para se decompor (Tabela 1). O lixo seco (41%) tem sua distribuição por tipo de matéria-prima explicado na Tabela 2. 
Além de sujeira, contaminam rios e solos, tornando-os improdutivos e com altos custos para recuperá-los.
O lixo hospitalar normalmente está contaminado com vírus e bactérias e deve ser descartado separadamente ou incinerado, na maioria dos caso o próprio hospital faz isso.
Poucos municípios dão tratamentos especial ou reciclam os entulhos da construção civil, apesar de serem produzidos em grandes quantidades. Na maior parte, servem de substrato ou pavimento de estradas, para tapar buracos ou depressões ou como tijolos ou briquetes. No primeiro mundo, a destinação é parecida, mas a quantidade reciclada é bem maior que a nossa.