sexta-feira, 8 de julho de 2016

A mudanças climáticas na saúde humana


 Dissertação (Enem)
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo na modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “ as evidências na correlação entre aquecimento global e saúde.
”, apresentando proposta de intervenção, que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

Instruções Enem:
1. O rascunho da redação deve ser feito no espaço apropriado.
2. O texto definitivo deve ser escrito à tinta, na folha própria, em até 30 linhas.
3. A redação com até 7 (sete) linhas escritas será considerada “insuficiente” e receberá nota zero.
4. A redação que fugir ao tema ou que não atender ao tipo dissertativo-argumentativo receberá nota zero.
5. A redação que apresentar proposta de intervenção que desrespeite os direitos humanos receberá nota zero.

texto 1
O mundo deve se preparar para os impactos potencialmente devastadores das mudanças climáticas na saúde humana, disseram autoridades de várias partes do mundo reunidas em Paris nesta quinta-feira.
Algumas dessas consequências podem ser evitadas se a humanidade diminuir radicalmente o uso de combustíveis fósseis nas próximas décadas, mas muitas delas já estão sendo sentidas, disseram os participantes na abertura de uma conferência de dois dias organizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Saúde e clima são indissociáveis ​​porque a saúde humana depende diretamente da saúde do planeta”, afirmou a ministra francesa do Meio Ambiente, Ségolène Royal.
Royal, que também é presidente rotativa das conversações da ONU sobre a melhor forma de lidar com o aquecimento global, disse que os impactos na saúde devem desempenhar um papel mais central nas futuras negociações.
“De agora em diante, vou fazer o meu melhor para garantir que a saúde esteja integrada em todas as futuras conferências sobre o clima”, começando com um fórum especial na próxima reunião climática da ONU em novembro em Marrakesh, na qual participarão 196 nações, disse a ministra à AFP.
No Acordo de Paris, assinado em dezembro do ano passado, os países se comprometem a limitar o aquecimento global bem abaixo de 2º Celsius, além de ajudar as nações pobres a lidarem com seus impactos.
Um número crescente de estudos científicos prevê um cenário alarmante de sofrimento humano causado por alterações nos padrões climáticos, elevação dos mares, secas e supertempestades.
Além disso, os casos de doenças tropicais como malária, dengue e zika, entre outras, estão aumentando conforme os insetos que as transmitem se espalham com o aquecimento global.
Setor da saúde ‘sub-representado’
Ondas de calor extremas que deverão ocorrer a cada década, em vez de uma vez por século, vão fazer mais vítimas, especialmente entre doentes e idosos.
Em 2005, a OMS estimou que períodos quentes provocavam 150.000 mortes anualmente. Mais de 45.000 morreram só na Europa devido a uma onda de calor no verão de 2003.
A maior preocupação de todas talvez seja a ameaça para o abastecimento alimentar global.
“Podemos alimentar tantas pessoas” – nove bilhões na metade do século, segundo projeções da ONU – “quando o clima que nos sustenta está mudando de maneira tão adversa?”, perguntou à plateia Letizia Ortiz, rainha da Espanha e embaixadora especial para a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura.
Muitos alimentos básicos, especialmente nos países em desenvolvimento, não podem se adaptar rápido o suficiente às mudanças do tempo, resultando em rendimentos mais baixos.
Os peixes, que são a principal fonte de proteína para bilhões de pessoas, não só escassearam pela colheita industrial, mas estão migrando conforme os oceanos aquecem e os recifes de coral morrem.
Às vezes a saúde é mais prejudicada pelas fontes, e não pelos impactos, das mudanças climáticas provocadas pelo homem.
A OMS estima que sete milhões de pessoas morrem a cada ano por causa da poluição do ar, que também contribui para o aquecimento global como um gás do efeito estufa.
“O setor da saúde tem sido sub-representado nesta discussão, quando você pensa sobre os milhões de vidas que serão afetados, e até mesmo perdidas”, disse Richard Kinley, chefe interino do fórum climático da ONU.
“O mundo já está comprometido com níveis altos de alteração climática. O setor da saúde terá que lidar com as consequências”, completou Kinley.
A Segunda Conferência Global sobre Saúde e Clima terminará na sexta-feira com uma proposta de “programa de ação” para os governos nacionais.http://istoe.com.br/conferencia-da-oms-ressalta-impacto-da-mudanca-climatica-na-saude/
texto 2
Brasília, 30 de novembro de 2015 – A mudança climática está ameaçando aumentar os problemas de saúde no mundo, adverte a Organização Mundial da Saúde (OMS) no Perfil de País Climático e de Saúde 2015. Espera-se que o aumento nas temperaturas, as ondas de calor intensas, a precipitação mais extrema, as inundações e os deslizamentos de terra intensifiquem os desafios existentes das doenças transmissíveis, a insegurança alimentar e a pobreza caso medidas não sejam tomadas.
Há agora um vasto conjunto de evidências de que as ações humanas, principalmente a queima de combustíveis fósseis, causaram mudanças significativas no sistema climático. “Nosso planeta está perdendo sua capacidade de sustentar a vida humana com boa saúde”, disse a Diretora Geral da OMS, Margaret Chan. “A melhor defesa é a mesma que nos protegerá de surtos de doenças infecciosas e da crescente carga de doenças não transmissíveis: sistemas de saúde fortes, flexíveis e resilientes.”
As emissões globais dos poluentes climáticos, inclusive o dióxido de carbono e o carbono negro, estão levando a mudanças climáticas. Se as taxas atuais de emissões continuarem, projeta-se que a temperatura anual média subirá aproximadamente 5.8°C, de 1990 a 2100. No entanto, se puderem ser reduzidas por meio de ações como a troca para combustíveis mais limpos para a geração de eletricidade e energia doméstica, e menos sistemas de transporte poluentes, a ascensão da temperatura poderia ser limitada a aproximadamente 1.2°C. 
Implicações-chave da mudança climática para a saúde no Brasil
Está projetada que a mudança climática aumentará as ondas de calor, as secas, as inundações e o nível do mar em todo o mundo, e também causará riscos importantes para a saúde no Brasil. A OMS relata que, a menos que consideráveis medidas protetoras sejam tomadas, projeta-se que mais de 618 mil brasileiros sejam afetados pela inundação causada pelo aumento do nível do mar em todos os anos de 2070 a 2100. Estima-se que mortes associadas ao aumento da temperatura em idosos (acima de 65 anos) crescerão para quase 72 mortes por 100.000 em 2080, comparado com 1 por 100.000 ao ano, de 1961 a 1990.
A OMS, em parceria com a Secretaria da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) e vários parceiros, trabalhou com o Ministério da Saúde do Brasil para elaborar o perfil do país, que apresenta evidências na correlação entre mudança climática e saúde, assim como as oportunidades que o Brasil poderia aproveitar para melhorar a saúde enquanto reduz as emissões de gás de efeito estufa.
“O perfil é importante para ajudar o país a proteger a saúde de suas populações frente às mudanças climáticas, pois apresenta orientações para conter as ameaças e seus potenciais riscos à saúde”, afirmou o Representante da Organização Pan-Americana da Saúde / Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) no Brasil, Joaquín Molina.
Ações-chave para o Brasil
Enquanto o governo do Brasil já está tomando iniciativas substanciais para implementar programas de adaptação à saúde e desenvolver capacidade técnica para atuar em mudanças climáticas e saúde, o perfil do país identifica oportunidades adicionais para ações. 
A OMS recomenda que o país amplie atividades para aumentar a resiliência climática da infraestrutura de saúde e desenvolva uma estratégia nacional para a mitigação das mudanças climáticas que considere suas implicações para a saúde.
Isto deve orientar as medidas protetoras. Por exemplo, se o país fortalecesse as medidas contra o aumento do nível do mar e a inundação costeira, o número de pessoas afetadas poderia se limitar a 3.200 pessoas por ano. A melhoria da vigilância e resposta a doenças poderia fornecer proteção eficaz contra o risco de doenças, como malária, mesmo com o aquecimento climático.
No Brasil, 5% das 336.000 mortes por doença isquêmica do coração, acidente vascular cerebral, câncer de pulmão, doença pulmonar obstrutiva crônica (em pessoas de 18 anos ou mais) e baixas infecções respiratórias agudas (em menores de 5 anos) são atribuíveis à poluição do ar doméstico. 
Esses riscos podem ser evitados por domicílios que usam combustíveis mais limpos ou tecnologias mais eficazes para cozinhar, aquecer e iluminar – o que também reduz suas contribuições para as mudanças climáticas. Outros benefícios são a redução de custos para os sistemas de saúde e a melhoria da produtividade econômica com uma força de trabalho mais saudável e produtiva.
Entre as medidas-chave que o Brasil já tomou estão: assinatura da UNFCCC em 1992 e ratificação do Protocolo de Kyoto em 2002, além da instituição da Política Nacional sobre Mudança do Clima em 2009 e do Fundo Nacional sobre Mudança do Clima em 2010.
Nota aos redatores: 
Os Perfis Climáticos e de Saúde são coordenados pela OMS com a Secretaria da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, financiados e apoiados pelo Wellcome Trust, e produzidos com especialistas de liderança da Universidade de East Anglia, o CPD, a Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, a Universidade de Wisconsin-Madison, a Organização Meteorológica Mundial e o Banco Mundial. 
O perfil de país do Brasil é um dos 15 primeiros que a OMS está revelando para ministros da saúde e outros tomadores de decisões ao redor do mundo, a fim de apoiar um tratado eficaz e de promoção da saúde nas negociações da UNFCCC, em Paris, em dezembro de 2015. 
Perfil de país disponível em inglês em: www.who.int/globalchange/resources/country-profile/en/
Apoie a Chamada para Ação da OMS de proteção da saúde frente às mudanças climáticas (em inglês): www.who.int/globalchange/global-campaign/en/ http://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=4954:2015-11-30-12-37-21&Itemid=839

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Plid (Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos)


TEXTO 1
 A cada dez pessoas desaparecidas no Estado de São Paulo nos últimos três anos, quatro são crianças ou adolescentes. Ao todo, são 4.012 menores de 18 anos que não voltaram para casa neste período –em sua maioria, moradores de regiões pobres da Grande São Paulo.Os números fazem parte de uma pesquisa inédita do Plid (Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos), dos ministérios públicos de São Paulo e Rio de Janeiro, que reúne o principal banco de dados do país sobre desparecidos. No total desde 2013, há 9.552 casos que continuam como não localizados –somando os já solucionados no período, foram 17.939.
Os registros se concentram em regiões onde a violência urbana é grave e há relatos de ação do crime organizado e de policiais violentos.
Como a Folha mostrou, foi o Plid que detectou, em 2014, que uma série de desaparecidos em São Paulo tinha sido enterrada como indigentes, mesmo identificados –muitos com RG no bolso.
Os distritos policiais com mais ocorrências na região metropolitana são o da cidade Francisco Morato e, em São Paulo, os 73º DP (Jaçanã) e 72º DP (Vila Penteado), ambos na zona norte. Em seguida, vêm delegacias dos extremos leste e sul.
"Não raro, pela narrativa, a gente percebe que [os desaparecidos] já estão mortos. Só não achamos o corpo ainda", afirma a promotora Eliana Vendramini Carneiro, coordenadora do Plid São Paulo. "Isso é uma coisa muito comum, principalmente quando você ouve falar sobre violência policial e tráfico de drogas."
Além da violência urbana, a promotora também aponta outros fatores que fazem crescer essas estatísticas de sumidos. Um deles é o tráfico de seres humanos, seja para exploração sexual ou para o trabalho escravo. Também há casos de tráfico de órgãos.
JOVENS E CRIANÇAS
Há aspectos diferentes para desaparecimentos de adolescentes e crianças. Os primeiros representam 33% do total de desaparecidos, mas o percentual é reforçado por casos de jovens que saem de casa devido a conflitos domésticos e uso de drogas.
Segundo o advogado Ricardo Cabezón, presidente da Comissão de Direitos Infanto-juvenis da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo), o índice de reencontro é de 70%. "Já o de crianças é bem diminuto."
Segundo ele, nos casos de crianças, é muito maior a incidência de sequestros para adoção ilegal e exploração sexual. São grupos que agem rapidamente, em locais de grande circulação de pessoas.
"Em portos, aeroportos, rodoviária, o documento usado para provar que o filho é seu, a certidão de nascimento, é fácil de falsificar", afirma.
Por isso, as famílias devem procurar a polícia o quanto antes. Hoje, embora seja possível encontrar resistência em algumas delegacias, já existe uma lei que garante o direito de que as buscas se iniciem antes que se passem 24 horas do desaparecimento.
TRABALHO POLICIAL
A partir de 2014, normas internas foram publicadas pela Polícia Civil para aumentar a atenção aos desaparecidos –a regra não inclui, porém, casos de adolescentes.
Apesar da mudança, muitos parentes de desaparecidos ainda reclamam da falta de ajuda do poder público, e, por isso, formam uma grande rede de busca de desaparecidos.
A polícia paulista tem apenas uma pequena equipe no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) dedicada exclusivamente ao assunto.
Em 2014, conforme a Folha revelou, entre 2012 e 2013, essa delegacia abriu 51 inquéritos para apurar desaparecimentos –0,3% do total de casos registrados na capital naquele período (18.176).
Em 2015, a Segurança Pública diz que a mesma delegacia abriu 228 inquéritos para investigar desaparecidos e que foram instaurados 8.530 Pids (Procedimentos de Investigação de Desaparecidos) –apurações sem acompanhamento da Promotoria e do Judiciário.
O governo Geraldo Alckmin (PSDB) diz que, em 2015, foram registrados no Estado 27.759 boletins de ocorrência de pessoas desaparecidas, dos quais 27.321 foram solucionados.
A polícia não informou, porém, quantas pessoas estão desaparecidas no Estado por suas próprias contas. Nem, também, qual é a estrutura dedicada para a busca de desaparecidos. Quatro em cada dez desaparecidos em São Paulo são crianças e adolescentes.ROGÉRIO PAGNAN
ARTUR RODRIGUES
DE SÃO PAULO
04/07/2016  02h0






sábado, 2 de julho de 2016

Stephen Hawking: “Raça humana terá que sair da Terra se quiser sobreviver”
Físico britânico reflete sobre a origem do universo em entrevista exclusiva ao EL PAÍS


Merry Christmas”. A emblemática voz metálica do cientista mais famoso do planeta soa em meio à orla marítima da praia de Camisón, em Tenerife, na Espanha, provocando as gargalhadas dos turistas que se aglomeram ao seu redor, sussurrando entre si: “É Stephen Hawking”, a medida que passa por eles. “É uma brincadeira que costuma fazer para que as pessoas riam”, explica uma das responsáveis da equipe que o segue por todas as partes. Hawking (Oxford, 1942) se encontra na ilha espanhola para apresentar a terceira edição do festival científico Starmus, realizado a cada dois anos e que em sua edição de 2016 reunirá uma dúzia de prêmios Nobel, entre outras figuras reconhecidas da ciência, da divulgação e exploração especial.
As leis da ciência bastam para explicar a origem do Universo. Não é preciso invocar Deus
O físico, recentemente retratado no filme sobre sua vida A Teoria de Tudo, que deu o Oscar de melhor ator a Eddie Redmayne, escreve graças a um sensor na bochecha, onde está um dos poucos músculos que ainda consegue mover por conta da doença neurodegenerativa que sofre. Apesar de contar com vários programas tecnológicos que o ajudam a agilizar o processo de escrita, algumas vezes, dizem seus acompanhantes, pode levar duas horas para responder a uma simples pergunta. Mas ele tem um botão especial para fazer gracinhas com um só clique.
Na rua, uma mulher de maiô grita “obrigado por seu senso de humor, Stephen!”, prova do carisma do cientista, que penetrou fundo no imaginário coletivo global muito além dos fãs de ciência. Sete pessoas acompanham o físico nessa viagem, entre assistentes, médicos e gente de sua confiança, sempre atentos a sua frágil saúde de ferro, que o manteve vivo até os 73 anos “contra todos os prognósticos”. É como explica nessa entrevista exclusiva ao EL PAÍS, que teve a ocasião de passar um dia com ele e o organizador do Starmus, o físico Garik Israelian. Hawking fala sobre a necessidade de conquistar o espaço para sobreviver como espécie, do perigo do desenvolvimento da inteligência artificial e sobre o que os jovens cientistas no mundo todo devem esperar do futuro.
Pergunta. O senhor tem uma agenda vertiginosa de viagens, conferências, entrevistas, festivais... quase como uma estrela do rock. Por que vive dessa forma?
Resposta. Sinto que tenho o dever de informar as pessoas sobre a ciência.
P. Gostaria de fazer alguma coisa na vida que ainda não o fez?
R. Viajar ao espaço com a Virgin Galactic.
Se os extraterrestres nos visitarem, o resultado será muito parecido com o que aconteceu quando Colombo desembarcou na América: não foi uma coisa boa para os nativos americanos
P. Um de seus últimos livros fala sobre a teoria de tudo, que uniria a relatividade e a física quântica. Sobre o que será o próximo?
R. Pode ser que meu novo livro seja sobre minha sobrevivência, contra todos os prognósticos.
P. Em muitos países, como na Espanha, o orçamento para a ciência é limitado, e muitos cientistas jovens precisaram emigrar para encontrar trabalho. O que o senhor diria a um jovem de países como o nosso e que pretende ser cientista?
R. Que vá para os Estados Unidos. Lá valorizam a ciência porque ela produz tecnologia.
P. Recentemente o senhor criou uma iniciativa muito ambiciosa para buscar vida inteligente em nossa galáxia. Há alguns anos, entretanto, disse que seria melhor não estabelecer contato com civilizações extraterrestres, porque poderiam nos exterminar. Mudou de opinião?
R. Se os extraterrestres nos visitarem, o resultado será muito parecido com o que aconteceu quando Colombo desembarcou na América: não foi uma coisa boa para os nativos americanos. Esses extraterrestres avançados poderiam virar nômades, e tentar conquistar e colonizar todos os planetas aos quais conseguissem chegar. Para meu cérebro matemático, de números puros, pensar em vida extraterrestre é algo muito racional. O verdadeiro desafio é descobrir como esses extraterrestres podem ser.
De fato, de certo modo minha incapacidade foi uma ajuda. Não preciso dar aulas e participar de comitês chatos
P. Pouco tempo atrás o senhor disse que a informação pode sobreviver a um buraco negro. O que isso significa para uma pessoa comum?
R. Cair em um buraco negro é como se lançar das cataratas do Niágara em uma canoa: se você remar suficientemente rápido, pode escapar. Os buracos negros são a máquina de reciclagem definitiva: o que sai é a mesma coisa que entra, mas processada.
P. No ano de 2015 a teoria da relatividade geral completa cem anos. O que o senhor diria a Albert Einstein se pudesse falar com ele, e o que espera da ciência nos próximos cem anos?
R. Einstein escreveu um artigo em 1939 no qual afirmava que a matéria não poderia comprimir-se além de um certo ponto, descartando a possibilidade da existência de buracos negros.
P. Por que acredita que devemos temer a inteligência artificial? É inevitável que os humanos criem robôs capazes de matar?
R. Os computadores superarão os humanos graças à inteligência artificial em algum momento nos próximos cem anos. Quando isso acontecer, precisaremos nos certificar de que os objetivos dos computadores sejam os mesmos que os nossos.
Acho que todo mundo pode, e deve, ter uma ideia geral de como funciona o universo e de nosso lugar nele
P. Qual acredita que será nosso destino como espécie?
R. Creio que a sobrevivência da raça humana dependerá de sua capacidade para encontrar novos lares em outros lugares do universo, pois o risco de que um desastre destrua a Terra é cada vez maior. Desta forma, gostaria de despertar o interesse do público pelos voos espaciais. Aprendi a não olhar muito à frente, a me concentrar no presente. Ainda quero fazer muitas outras coisas.
P. O Governo espanhol aprovou grandes cortes na ciência nos últimos anos. O que o senhor diria ao Governo?
R. Os espanhóis têm muito interesse na ciência e na cosmologia. Foram grandes leitores do meu livro Uma Breve História do Tempo. É importante que todos tenham bons conhecimentos de ciência e tecnologia. A ciência e a tecnologia estão mudando drasticamente nosso mundo, e é fundamental assegurar que essas mudanças ocorram na direção correta. Em uma sociedade democrática, isso significa que todos precisamos ter conhecimentos elementares sobre ciência, de modo que possamos tomar nossas próprias decisões com conhecimento de causa e não as deixar nas mãos de especialistas. É preciso simplificar, com certeza. A maioria das pessoas não tem tempo para dominar os detalhes puramente matemáticos da física teórica. Mas acredito que todo mundo pode, e deve, ter uma ideia geral de como funciona o universo e de nosso lugar nele. É isso que tento transmitir em meus livros e minhas conferências.
Os computadores superarão os humanos graças à inteligência artificial em algum momento nos próximos cem anos
P. Acredita que é possível ser um bom cientista e acreditar em Deus?
R. Utilizo a palavra “Deus” em um sentido impessoal, da mesma forma queEinstein, para me referir às leis da natureza.
P. O senhor disse que não precisamos de Deus para explicar o Universo tal como ele é. Pensa que algum dia os seres humanos abandonarão a religião e Deus?
R. As leis da ciência bastam para explicar a origem do Universo. Não é preciso invocar Deus.
P. Muitas pessoas precisam de cadeiras de rodas por conta de doenças como a esclerose lateral amiotrófica e muitas outras. Frequentemente enfrentam numerosas dificuldades para levar uma vida normal. Por exemplo, não podem viajar de avião em suas próprias cadeiras [Hawking costuma viajar de barco]. Uma vez que o senhor mesmo experimentou essas dificuldades, tem alguma mensagem para elas sobre a vida e como vivê-la?
R. Apesar de ter a desgraça de sofrer uma doença neuronal motora, tive muita sorte em praticamente todo o resto. Tive a sorte de trabalhar em física teórica, um dos poucos campos nos quais minha incapacidade não era um obstáculo sério, e de ser premiado com a popularidade de meus livros. Meu conselho para outras pessoas com incapacidades seria que se concentrassem em coisas que sua deficiência não as impeçam de fazê-las bem feitas, e que não se lamentem por aquelas nas quais o problema interfere.
Tudo está na mente. Preciso admitir que, quando não sigo o assunto de uma conversa, costumo divagar em reflexões sobre física e buracos negros. De fato, de certo modo minha incapacidade foi uma ajuda. Não preciso dar aulas e participar de comitês chatos, e me deu mais tempo para pensar e pesquisar.
Aprendi a não olhar muito à frente, a me concentrar no presente
P. Muitos cientistas de renome mundial, entre eles 12 prêmios Nobel, participarão do Starmus 3 para reverenciá-lo. Será um acontecimento histórico. Existe algo especial que o senhor queira ver no Starmus 3?

R. O Starmus 3 não se trata somente de buracos negros, campo no qual realizei um trabalho importante, mas abarca também a música e a arte. O Starmus 3 é o lugar onde a ciência séria se encontra com um público mais amplo; onde o pensamento intelectual, as nuances e a complexidade são reverenciados; onde se explora a maneira como trabalham os cientistas e onde são forjadas novas ideias.http://brasil.elpais.com/brasil/2015/09/24/ciencia/1443106788_324837.html